Quem vai querer comprar?

É fácil observar nas gôndolas do varejo a profusão de marcas de empresas de grande porte. Fechando o foco no reduto de chocolate, então, nota-se que raras são as linhas produzidas por fabricantes de pequeno e médio porte em exposição nas prateleiras. Pois uma iniciativa que partiu do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pode mudar esse panorama. O órgão estabeleceu prazo até outubro deste ano para a Nestlé concluir a venda de um pacote de marcas – que inclui o bombom Serenata de Amor e os confeitos Chokito, Lollo e Sensação – para concorrentes de médio ou pequeno portes. A determinação faz parte de um acordo com a autoridade antitruste para que a compra da Garoto pela multinacional suíça seja finalmente aprovada. Esse pacote inclui mais marcas do portfólio da Garoto/Nestlé, mas os nomes não foram divulgados. Lembrando: o negócio envolvendo a aquisição total da indústria capixaba foi fechado em 2002. Naquela época, operações como essa podiam ser consumadas sem a anuência do Cade, pois somente após 2012 uma nova lei estabeleceu o aval prévio da autarquia.

A autoridade acabou vetando o negócio dois anos depois e sua decisão foi levada à Justiça. O Cade concluiu que o negócio levaria à formação de um duopólio no mercado de chocolates, que seria dividido entre a Nestlé e a Kraft (dona da Lacta e hoje integrada à Mondelez). Os conselheiros entenderam que havia barreiras ao ingresso de outros concorrentes, bem como a necessidade de investimentos pesados em marcas, fábricas e num sistema eficiente de distribuição. Por esses motivos, determinou a venda da fábrica, marcas e ativos da Garoto. Com o pedido de reapreciação negado, a Nestlé recorreu à Justiça em maio de 2005. Três meses depois, obteve liminar que suspendeu a obrigação de vender a Garoto. Passados 14 anos da compra, foi fechado em 2016 um acordo entre Nestlé e o Cade que, se cumprido integralmente, levará ao fim os questionamentos envolvendo a operação. Ao que tudo indica, fabricantes de marcas pouco conhecidas agora terão a oportunidade de ingressar com competitividade no mercado de chocolate do Brasil, até hoje um dos mais concentrados do planeta. ■

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