Queda livre

Com a aceleração da crise na virada do semestre, a queda no consumo de alimentos...

editorialCom a aceleração da crise na virada do semestre, a queda no consumo de alimentos, inclusos confeitos e guloseimas, acabou se refletindo na produção. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), no acumulado de 12 meses até julho, a produção de seis das 11 categorias de alimentos processados do país recuou. Houve queda na cadeia do trigo (1,37 %), com o setor de biscoitos como única exceção, conforme reportagem de capa da presente edição. Mas chocolate, cacau e balas, com baixa de 4,18%; laticínios (queda de 3,20%), desidratados e supergelados (0,99%) e bebidas (5,33%) acusaram declínio. A produção de alimentos como um todo apresentou queda acumulada de 0,99% no período, crava a entidade. As vendas reais acumuladas em 12 meses até julho, por sua vez, indicam uma queda de 1,04%. Apresentaram declínio em vendas as categorias de chocolate, cacau e balas (de 1,72%), conservas vegetais e sucos (1,19%), óleos e gorduras vegetais (2,91%) e diversos (4,96%), resultado abaixo do esperado pela Abia. A associação ainda nutria uma expectativa de crescimento do setor de alimentos neste ano. De acordo com a entidade, as indústrias já fizeram ajustes para controlar o aumento de custos produtivos e tentar segurar reajustes nos preços. Os investimentos no primeiro semestre foram reduzidos em 42%, para R$ 5,57 bilhões, orça a Abia. Parte da queda pode ser atribuída à base muito alta de comparação. No ano passado, muitas indústrias anteciparam investimentos para atender à demanda maior durante a Copa do Mundo. No ano, portanto, a diferença não deve ficar tão grande. Ainda segundo a Abia as indústrias estão usando atualmente em torno de 66% da sua capacidade instalada contra 71% há um ano atrás. O índice ainda é considerado normal para o setor. Para 2015, a estimativa é que as indústrias acusem crescimento em volume de produção de 0,5% a 1,1% e incremento nas vendas reais de 1,2% a 1,5%, índices que batem com a previsão da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados), repassada na reportagem especial desta edição.
O quadro pintado pela Abia cintila nos radares de diversas instituições de pesquisa. Os consumidores estão deixando de comprar doces e sobremesas, salgadinhos e congelados (hambúrgueres, pratos congelados, lasanha) para economizar, capta estudo da consultoria Dunnhumby. Salgadinhos e doces são os primeiros a ser riscados da lista para 30% dos entrevistados. Outro estudo, realizado pela Nielsen, indica que as categorias de bebidas foram as mais penalizadas no primeiro semestre. As não alcóolicas (incluindo refrigerantes, sucos prontos e refrescos em pó) tiveram retração de 2,6% em vendas reais até junho. O levantamento desconta a inflação do período, de 8,09%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE. A cesta total avaliada pela Nielsen, que engloba 132 produtos, apresentou estabilidade em receita de vendas no primeiro semestre. No ano passado, houve uma racionalização do consumo. Mas agora, nota a Kantar Worldpanel, está havendo queda no volume de compras. Já a consultoria Plano CDE aponta como outra forma de cortar gastos com alimentos a substituição de itens por produtos similares, como a troca do iogurte por bebida láctea e do azeite por outros óleos vegetais. A alimentação foi o segundo item essencial que mais sobrecarregou o orçamento da classe C nos últimos seis meses, depois do aumento da conta de luz. As compras de casa, segundo a Plano CDE, consomem quase um terço da renda dessas famílias e, para manter as conquistas de consumo em meio à retração econômica, 94% dos entrevistados pela consultoria afirmam ter mudado suas estratégias ao abastecer as despensas. Os consumidores intensificaram a busca por promoções, reduziram a quantidade de compras, cortaram categorias e adotaram novas marcas. •

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