Queda interrompida

A queda violenta dos preços do cacau iniciada em dezembro do ano passado ...
Thomas Hartmann
Thomas Hartmann
Thomas Hartmann

A queda violenta dos preços do cacau iniciada em dezembro do ano passado acabou sendo sustada a partir do começo de fevereiro. As cotações do mês mais negociado na Bolsa de Nova York voltaram a avançar US$ 357 do seu ponto mais baixo de US$ 2.761 até chegarem ao cume de US$ 3.118 em meados de março, recuperando mais de 50% das perdas sofridas durante a derrubada anterior. A reversão foi motivada por expectativas de que a seca prolongada nos grandes países produtores da África Ocidental provocaria uma forte queda das entradas de cacau, principalmente de Gana e da Costa do Marfim. Havia ainda a possibilidade desse quadro se agravar pela incidência excepcionalmente intensa dos ventos secos do Harmattan do deserto de Saara, que se abateram sobre as regiões produtoras desses países. A tendência de alta perdeu impulso quando essas expectativas não se concretizaram até meados de março e os preços voltaram novamente a regredir, cedendo a vendas de liquidação de posições compradas de especuladores. Mas novos sinais de estabilização surgiram quando o contrato mais negociado em Nova York fechou cotado a US$ 2.900. As opiniões dos operadores estão divididas a respeito das perspectivas do mercado, o que provavelmente conduzirá a um comportamento volátil e indeciso dos preços no futuro próximo.
As moagens mundiais do primeiro trimestre de 2016 começaram a ser publicadas a partir da segunda semana de abril e fornecem indícios a respeito da evolução da demanda global. Segundo as expectativas, as moagens da União Europeia registrarão um aumento estimado entre 1% e 5%, enquanto as da América do Norte são esperadas sofrer uma queda avaliada dentro da mesma faixa percentual. Um crescimento maior está projetado para as moagens da Ásia que, na opinião de alguns analistas, poderá chegar a até 10%. As previsões para o resultado da safra internacional de 2015/16 (contado de outubro a setembro) indicam um déficit de 100-150 mil toneladas (t).
A notícia que mais diretamente concerne o mercado brasileiro é a perspectiva altamente pessimista para a produção doméstica de cacau. Depois de ter alcançado a produção mais alta dos últimos 20 anos na safra internacional de 2014/15 com mais de 231 mil t, a safra corrente poderá encolher para apenas 160 mil t. A causa é a severíssima estiagem que atingiu a maioria das regiões produtoras do país desde o final do ano passado. Ela já foi superada pelo retorno das chuvas na Bacia Amazônica a partir de março, mas ainda prevalece na Bahia, o principal estado produtor, onde só recentemente começaram a cair chuvas ainda fracas. Enquanto ainda existe a possibilidade que uma recuperação quase total nos outros estados produtores, onde as perdas poderão ficar limitadas a apenas 10%, as colheitas da Bahia encaram a perspectiva de sofrer uma quebra superior a 40%, o que resultará numa grave crise econômica na região cacaueira do estado. •

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