Pé no freio

Indústria de candies reduz participação na feira da Abad

Com público estimado em 30 mil visitantes, dos quais 30% de cearenses e 70% de outros estados, a convenção e feira anual do setor atacadista distribuidor – Abad 2015, promovida no início de agosto em Fortaleza (CE), encerrou a sua 35ª edição com saldo positivo, apesar da crise econômica do país. Mais de 150 fornecedores de produtos, serviços e equipamentos recepcionaram uma clientela qualificada durante os quatro dias de exposição, no Centro de Eventos do Ceará (CEC). Segundo a Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), a feira paralela à convenção movimentou cerca de R$ 20 bilhões em negócios. “Os comentários foram em grande parte positivos em relação ao retorno do investimento feito pelas empresas. Isso mostra a confiança do setor mesmo diante de um cenário difícil e desafiador”, resume José do Egito Frota Lopes Filho, presidente da entidade.

Lopes Filho, da Abad R$ 20 bilhões em negócios e transferência para São Paulo.
Lopes Filho, da Abad R$ 20 bilhões em negócios e transferência para São Paulo.

Para o setor de confeitos (confectionery), no entanto, a mostra considerada uma das maiores vitrines da ala de candies perdeu fôlego nos últimos anos. Desde o ano passado, ela não conta com a montagem paralela da Sweet Brasil International Expo, a maior plataforma de lançamentos da indústria de chocolates, biscoitos e candies do país. Patrocinada pela Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Cacau, Chocolate, Amendoim, Balas e Derivados), ela era montada simultaneamente à feira da Abad desde 2002, quando as duas entidades costuraram uma aliança entre o setor de guloseimas e o seu canal de vendas por excelência. “O evento da Abad já vinha fragilizado nos últimos anos, principalmente pelo caráter itinerante que onera pesadamente os custos dos expositores, culminando com a participação de apenas cinco indústrias do setor na presente mostra”, analisa Alexandre Heineck, diretor comercial da gaúcha Docile.
Desde a sua criação, a realização da feira do atacado distribuidor se revezava, com exceções pontuais, entre Curitiba (PR) e capitais do Nordeste. Heineck observa que um dos pleitos dos expositores do setor de confectionery era trazer o evento para São Paulo. “Nesse sentido, parece que fomos atendidos, pois já anunciaram que a feira no ano que vem será na capital paulista. A expectativa é que ela se fixe, pois trata-se do maior centro consumidor do país, principal alvo da maioria das empresas”, assinala o executivo. Com o rompimento da Sweet Brasil no ano passado, o contingente de indústrias da ala doceira que, no passado, chegou a abocanhar 20-25% do total de participantes do evento caiu drasticamente. “De mais de 20 no ano

Gomes, do Assaí impacto mais forte no segmento de food service.
Gomes, do Assaí impacto mais forte no segmento
de food service.

passado, só vieram cinco este ano. E das nove indústrias do setor no Rio Grande do Sul, só estiveram presentes três”, nota o dirigente da Docile, que alinhou este ano ao lado das também gaúchas Florestal e Neugebauer (grupo Vonpar). Apesar desse enfraquecimento, Heineck reconhece a importância do principal evento do setor atacadistra distribuidor para a indústria de candies. Por conta disso, a Docile nunca deixou de prestigiar a mostra, mesmo com todos os custos dessa mobilização itinerante. “A movimentação na feira este ano foi menor, mas felizmente para a Docile, dos quatro dias, três foram intensos, com resultados ótimos, porém visando a clientela do Norte e Nordeste, pois do restante do país compareceram muito poucos representantes”, avalia o empresário.
Parceira histórica da Abad e seu maior evento, a Mondelez nunca deixou de prestigiar a feira de negócios. A estratégia envolvendo sua participação, porém, não incluiu a alocação de espaço e montagem de estande regular. “Preferimos apoiar o evento como patrocinadores, aparecendo com as marcas Trident e Sonho de Valsa em toda plataforma de comunicação da feira”, informa Augusto Lemos, diretor nacional de vendas da companhia. Para ele, o ganho com visibilidade buscou privilegiar duas das marcas mais icônicas do portfólio, escolhidas para receber assim reforço às campanhas em curso na mídia no período de realização da Abad. ”Sempre é uma dificuldade escolher entre as marcas da Mondelez, uma vez que a maioria é líder em sua respectiva categoria. Decidimos selecionar Trident como uma marca representante de refrescância e Sonho de Valsa por recentemente ter sido reposicionada, sendo que ambas estrearam campanhas”, salienta o executivo.

Lemos, da Mondelez maior visibilidade para Trident e Sonho de Valsa com patrocínio da feira.
Lemos, da Mondelez maior visibilidade para Trident e Sonho de Valsa com patrocínio da feira.

À frente do time de vendas que cobre rotineiramente 700 mil pontos de venda (PDVs) em todo o país, Lemos assinala que a feira da Abad é fundamental e estratégica para capilarizar a distribuição, atingindo principalmente o varejo tradicional. Com dados da Nielsen em mãos, o dirigente destaca que o segmento de impulso, puxado pela performance desse canal de vendas, registrou crescimento de 20% no ano passado, enquanto que a Mondelez cravou avanço de 29% no filão. “O giro de chocolates, balas, gomas e biscoitos cresce três vezes mais na boca do checkout do que no interior da loja”, situa o executivo. Além de consolidar a parceria com o atacado, a participação da Mondelez na Abad 2015 buscou também pavimentar o leito para o maior lançamento da companhia neste segundo semestre: o candy bar 5Star, incorporado ao portfólio da Lacta. “É um segmento no qual buscamos melhor posição e, com os investimentos previstos, certamente iremos alcançar os objetivos”, sublinha o diretor, sem abrir cifras. Introduzida a partir de agosto, a guloseima apresentada em embalagem de 40g é um bombom recheado com caramelo e biscoito coberto com chocolate, importado da Irlanda. “Mas sua fabricação local está programada para o próximo ano”, adianta Lemos.
Inadimplência à vista

Heineck, da Docile crise não inibe investimento em fábrica no Nordeste.
Heineck, da Docile crise não inibe investimento em fábrica no Nordeste.

Ecos da crise econômica repercutiram durante o evento, com a divulgação de um estudo pioneiro da Serasa Experian, dando conta de que um terço das empresas (33,1%) clientes dos atacados no país (pequenos varejistas, bares e restaurantes) apresentam alto risco de crédito. Tratam-se de estabelecimentos, repassa a entidade, com probabilidade alta de se tornarem inadimplentes nos próximos seis meses. Segundo o Serasa, esse grupo de empresas com potencial para o calote no curto prazo representa 85% da massa de varejistas no país, que atendem consumidores em mercadinhos e lojas em pequenas cidades e bairros periféricos – e potenciais clientes do atacado distribuidor. Varejistas com falência decretada, autofalência, concordata, recuperação judicial e extrajudicial representam 9,8% do total.
O estudo de certa forma reflete a queda de 9,5% nas vendas brutas nominais do setor atacadista, de janeiro a junho, contabiliza a Abad. Ao se descontar a inflação (IPCA), a queda real supera 19%. “Essa piora no quadro de solvência afeta mais os bares e restaurantes do que o pequeno supermercado, pois as pessoas estão fazendo mais refeições em casa e o fluxo de clientes caiu mais nas redes de alimentação do que nas lojas de vizinhança e minimercados atendidos pelo setor de distribuição”, argumenta Lopes Filho. Ele, entretanto, pondera que pode existir um efeito dominó atingindo também os pequenos supermercados, que são grandes compradores do atacado. “O consumidor gasta menos, o lojista compra menos e começa a sentir dificuldades de arcar com as dívidas. Pode ser que isso se acentue daqui para frente”, avalia o dirigente. Por enquanto, informa ele, a inadimplência no atacado neste ano tem oscilado na faixa de 4,5% a 5% ao mês.
Heineck, da Docile, alega que a sua empresa antecipou esse cenário e adotou medidas restritivas na concessão de crédito. “Por estratégia, ficamos mais rigorosos e não fomos impactados pelo quadro de inadimplência”, assinala o diretor. Ele, aliás, reporta resultado positivo no primeiro semestre por conta da gestão financeira da empresa e do intenso trabalho voltado ao trade. “Colocamos em campo diversas ações de trade marketing, no sentido de estarmos mais presentes na operação dos clientes e auxiliá-los a vender mais, com ações promocionais, balcões de degustação, premiações por vendas, maior destaque às nossas marcas e apelo visual mais agressivo aos produtos”, alinha o executivo.
A queda nas vendas no primeiro semestre afetou a desova de estoques e, com isso, a entrada de recursos em caixa diminuiu, aumentando a necessidade de capital de giro para honrar compromissos. Por conta desse cenário, a Abad se reuniu em agosto com a direção do Banco do Nordeste para discutir a criação de linhas de crédito com menores juros para o setor. A ideia é expandir essa discussão para bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Segunda maior rede de atacado do país, o Assaí identificou queda na venda para clientes da área de alimentação no segundo trimestre. “Temos sentido o impacto mais forte no segmento de food service, onde boa parte dos operadores de restaurantes, lanchonetes e pizzarias, tem o Assaí como um ponto de abastecimento muito forte”, relata Belmiro Gomes, presidente do atacarejo.
Queda menor
Esse pé no freio das vendas foi menos intenso no atacado especializado, pelo menos no caso da Docile. Com relação à participação na feira da Abad, a empresa registra resultado em linha com o ano anterior, informa Heineck.“Mas os esforços e custos com a estratégia de crescimento aumentaram”, grifa ele. Tudo somado e subtraído, a Docile prevê crescimento no presente exercício de 12%, cifra que, segundo o dirigente, poderia

Orso, da Florestal reforço nos laços com parceiros e novas frentes de negócios.
Orso, da Florestal reforço nos laços com parceiros e novas frentes de negócios.

ser muito maior não fosse a conjuntura menos propícia. Um dos pilares desse crescimento é a intensificação da empresa na ala de festas, reduto que nasceu como um compartimento dos atacados doceiros e hoje se transformou em verdadeiro canal de venda de candies e derivados. “No passado, os estabelecimentos só ofereciam artigos para festa, descartáveis em sua grande maioria, e itens decorativos, mas ultimamente passaram a agregar guloseimas e doces acabados, abrindo um enorme mercado para a comercialização de balas, pastilhas, gomas e marshmallows”, relata Heineck.
Entre as inovações especialmente direcionadas a esse segmento, ele sublinha o Doci Blog (www.DociBlog.com.br), site que reúne ideias e sugestões para decorar momentos festivos com o portfólio da empresa, onde também pode ser conferida a segunda edição do exclusivo Guia de Festas da Docile. “Além de dicas e novidades, o internauta pode acessar as diversas aplicações dos nossos produtos e, se for doceiro, postar a sua criação, que ficará em exposição na galeria de imagens do site”, comenta o diretor da Docile. No ar desde fevereiro, o DociBlog exibe ainda um vídeo que ensina o passo a passo para se montar um bolo de marshmallow, utilizando as guloseimas da marca. Dos lançamentos especialmente para a feira da Abad, Heineck assinala a linha Docigoma Cores e Festas, com embalagem reestilizada (500g) e mais três cores de goma (azul, rosa e branco). Também reservada para disparo na feira, a linha Os MaxMallows formato tubo ganhou as cores amarelo e azul. “Apresentamos ainda em primeira mão as balas de gelatina com casquinha crocante Cróc Gelatines, em embalagens de 70g, e as Gelatines Cão e Gato, disponíveis em embalagens de 80g e 300g, bala do tipo dois em um, em formato de cão e gato de mãos dadas, com cada pet em um sabor diferente”, ressalta o industrial.
Contrariando a queda nos investimentos provocada pela conjuntura recessiva, Heineck anuncia a conclusão e inauguração da planta em Vitória de Santo Antão (PE) no próximo ano. Com 6.000 metros quadrados de área construída, a fábrica está instalada em terreno de 46.000 metros, sinalizando possíveis expansões. “Já iniciamos a transferência das linhas da unidade de Guararapes (PE) e devemos começar a produzir em março de 2016”, adianta o diretor, completando que a Docile Nordeste irá fabricar refrescos em pó, pastilhas, balas de goma e chicles. Com isso, a demanda regional será atendida em 50% pela unidade local. “A ideia é atingir a autossuficiência no médio e longo prazos”, grifa Heineck.

Novas frentes
Com participação assídua na feira da Abad, o grupo Florestal sustenta não haver melhor oportunidade para desovar os lançamentos que, tradicionalmente, a companhia programa para o segundo semestre. Para Adriano Orso, gerente de marketing da empresa, a transferência do evento para São Paulo vem a calhar, mas não altera muito a relevância de reforçar o canal de comunicação com o trade do setor doceiro. “É a ocasião

Copetti, da Neugebauer chocolate premium com marca 1891 em destaque.
Copetti, da Neugebauer chocolate premium com marca 1891 em destaque.

mais propícia para encontros com clientes de todo o Brasil, quando voltamos a estreitar os laços comerciais com antigos parceiros e até abrir novas frentes de negócios”, pondera o executivo. Com movimentação considerada satisfatória, a Florestal abriu no evento novidades da sua linha nos segmentos de balas, caramelos, pirulitos, gomas de mascar, balas de goma, drops, marshmallows e itens diet/light. O ingresso na cena de produtos à base pectina foi um importante passo para a empresa em 2014, destacado na Abad com a ampliação da linha de balas Zapzum, com as versões Corações, Peixinhos e Sapinhos. Produto inovador e de origem vegetal, com adição de corantes e aromas naturais, foi uma das exclusividades da Florestal que atraiu os olhares do trade da categoria de doces. Outro destaque da marca na feira foi a bala de goma Gomint, que inova pelo acento de refrescância. Desenvolvida no formato sino, é superdelicada, contém 1g por unidade, e foi concebida em três diferentes sabores (morango, laranja e menta) com adição de mentol, detalha Orso. Também foram apresentados o pirulito Picolé Coco e o pirulito Monster. “É mais um irreverente e divertido candy que se soma à linha com tatuagens de língua. Para esta versão, a guloseima recebeu seis diferentes formatos, sendo que em cada pacote são trabalhados dois sabores (maçã verde e uva)”, descreve o gerente.
Já a marca Boavistense, controlada da Florestal, aproveitou a convenção da Abad para reforçar os lançamentos do primeiro semestre, com destaque para a linha de pirulitos planos com tatuagem Pop Tattoo, com brinquedo, e sua série de balas de pectina.
A também gaúcha Neugebauer, controlada da Vonpar Alimentos, compareceu com seu arsenal de chocolates e candies. O ponto alto, considera Sergio Copetti, diretor da empresa, foi a apresentação do chocolate premium da marca, mais conhecido pela data 1891 estampada no rótulo. “Atraiu as atenções com a nova versão sabor Swiss, de chocolate ao leite combinado com pasta de avelã e a versão Minis, de chocolate monodose da marca”, comenta ele. Também sobressaíram no estande da companhia os chocolates Delírio e Love Me, que passaram por mudanças nas embalagens, além das linhas de confeitos Amor Amor, Baboom e Dupy.

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