O sumo do consumo

Indústria acerta o passo com intolerância à lactose e glúten
Dra. Neiva Souza maior atenção a benefícios publicados de forma indiscriminada e sem orientação profissional.
Dra. Neiva Souza maior atenção a benefícios publicados de forma indiscriminada e sem orientação profissional.
Dra. Neiva Souza maior atenção a benefícios publicados de forma indiscriminada e sem orientação profissional.

Montada no início de fevereiro em Colônia (Alemanha), a ISM – Feira Internacional de Doces e Biscoitos pôs em relevo ideias recém-saídas das incubadoras que, no conjunto, expressam tendências inovadoras na cena doceira. Um dos destaques foi a incorporação de correntes já consolidadas em outras categorias de alimentos, a exemplo de linhas de saúde e bem-estar em segmentos como balas, chocolates e biscoitos. Ainda mais radicais, tarjas emprestadas de alimentos especiais, como sem glúten e baixa lactose, tingiram as embalagens de confeitos e guloseimas. Um levantamento da consultoria Mintel indica, por exemplo, que o mercado de alimentos sem glúten movimenta US$ 9 bilhões por ano nos Estados Unidos. No Brasil, essa oferta vem aumentando, passando de 13% dos lançamentos em 2010 para 29% até julho de 2015, capta a consultoria (ver à pág. 34). “Embora sinalize uma tendência em franco crescimento no país é natural que ainda existam dúvidas quanto à natureza benéfica à saúde desses produtos”, observa a nutricionista Neiva Souza, do departamento científico da VP Consultoria Nutricional. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós-graduanda em Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul, ela elucida o consumo desses produtos especiais na entrevista a seguir.

DR – Qual a origem dessa onda de alimentos sem glúten e/ou de baixa lactose?
Dra. Neiva – A indústria alimentícia têm investido cada vez mais nessa gama de alimentos devido à necessidade de se produzir novas alternativas para atender a demanda de pacientes com intolerância à lactose ou alergia ao glúten, os quais possuem recomendações médicas e nutricionais para a restrição desses alimentos. Portanto, primariamente, seria uma linha de produtos voltada para dietas de restrição de glúten e lactose, que nos últimos anos vem se ampliando com produção em larga escala, incluindo produtos inéditos e com as versões sem glúten ou sem lactose de outros produtos já existentes.

DR – Que tipo de produtos pode hoje exibir essa alegação (claim) e quais as vantagens de consumi-los?
Dra. Neiva – Graças à expansão no mercado de produtos alimentícios sem lactose e sem glúten, existe hoje uma linha bastante diversificada, com biscoitos, pães, massas, farinhas, bolos, torradas e tortas sem glúten e/ou lactose, bem como as versões de laticínios sem lactose, dentre as quais o iogurte, bebidas lácteas, queijos e leite. Todos estes produtos, para terem a alegação “sem lactose” ou “sem glúten”, devem conter na composição ingredientes livres desses dois compostos e que também tenham controle de qualidade para que não haja contaminação cruzada, ou seja, para que os produtos não entrem em contato com partículas de glúten ou lactose em qualquer um dos processos de produção, desde o processamento até o armazenamento e comercialização.

DR – Quais as precauções para o consumo esses alimentos?
Dra. Neiva – Os principais cuidados se referem à escolha desses alimentos no ato da compra, pois apesar de serem opções livres de lactose ou glúten podem não ser alternativas com valor nutricional interessante. Sendo assim, tais itens pedem a mesma atenção na leitura do rótulo como qualquer outro produto industrializado, preferindo sempre as opções que tenham baixo teor ou isenção de gorduras trans, hidrogenadas e saturadas, sal, açúcar e aditivos químicos como corantes, adoçantes, espessantes, aromatizantes, conservantes e xarope de frutose ou de milho. Deve-se lembrar ainda que o consumo desses produtos deve ser orientado por um nutricionista.

DR – Alimentos sem glúten/sem lactose são próprios para consumo de qualquer pessoa?
Dra. Neiva – Atualmente, o amplo acesso às redes sociais favorece troca de informações sobre temas que estão em alta, como saúde, beleza e bem-estar. Com isso, a população em geral conhece as novidades e suas propriedades, como os alimentos e produtos sem lactose ou glúten, e, consequentemente, muitas pessoas podem vir a buscar alguns dos benefícios que acabam sendo publicados de forma indiscriminada e sem a adequada orientação profissional. A recomendação de alimentos sem glúten ou sem lactose é individual e direcionada principalmente para pacientes com diagnóstico de intolerância à lactose ou doença celíaca. Existem ainda outras patologias que necessitam dessa restrição mas, em qualquer um desses casos, a dieta deve ser prescrita, orientada e supervisionada por um nutricionista. •

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