O coelho mecânico

Elevação nos preços de chocolate incrementa demanda de máquinas para pequenas e médias produções
Koblinsky Jr.: custo elevado na produção e imposições do varejo desestimulam investimentos em linhas sazonais.
Koblinsky Jr.: custo elevado na produção e
imposições do varejo desestimulam investimentos
em linhas sazonais.

Por conta de preços carregados no sal em ovos de Páscoa de marca, ofertados pelos grandes fabricantes de chocolate, foi se consolidando nos últimos anos uma migração no front do consumo sazonal para o chamado mercado artesanal. Em ascensão desde antes do período de recessão no país, esse reduto é dominado por pequenos empreendedores, que compram cobertura (chocolate puro ou com misturas, em barras de 500g e 1 quilo) no atacado doceiro e formulam seus ovos em casa. Os volumes de consumo de cobertura têm mostrado vigor. Assim, crescem os fabricantes de coberturas e produtos semiacabados, como também se multiplicam os pequenos fabricantes de chocolate, com instalações pequenas e artesanais, nota Thomas Koblinsky Jr., diretor da Komatec, representação de sistemas e máquinas para a indústria de chocolate. “Temos vendido diversas instalações da marca alemã Netzsch para esse mercado de semiacabados, assim como para pequenos fabricantes, com distribuição regional”, reporta ele. Na entrevista a seguir, Koblinsky abre um panorama do setor de equipamentos para produção de Páscoa no Brasil.

DR – O que mudou no cenário de Páscoa nos últimos anos?
Koblinsky Jr. – No passado, os grandes fabricantes viam na Páscoa a fonte de seu capital para investimentos e lucros. Porém, o crescente custo de fabricação para a data, devido às condições impostas pelo varejo – a exemplo da venda em consignação–, em muitos casos acabou inviabilizando essa atividade para algumas empresas. A necessidade de pagar matérias-primas caras, como massa de cacau, manteiga e açúcar, antecipadamente, e de receber os pagamentos do varejo somente após o término da campanha também contribuíram para minar as operações. Algumas empresas, por sinal, não têm mais a Páscoa como foco. Mas de qualquer forma, a única maneira de sobreviver seria a dessazonalização, ou seja, não depender da Páscoa para o resultado anual, ou, eventualmente, automação total do processo.

DR – Quais são as mudanças significativas na fabricação de produtos de Páscoa?
Koblinsky Jr. – Existe uma tendência grande em processos totalmente automáticos. Os grandes players neste mercado, que atuam diretamente no varejo com venda através de lojas franqueadas, já estão bastante adiantados nesse processo, uma vez que a chave para o negócio é a redução de custos. Até então, a fabricação de ovos de Páscoa dependia de uma quantidade enorme de mão de obra, operada sob contratos temporários, com um custo altíssimo.

DR – Que avanços impactam mais a qualidade dos produtos de Páscoa no Brasil?
Koblinsky Jr.– Creio que seja mais em padrão (repetibilidade) e algumas alterações na embalagem. A textura e sabor não devem sofrer influência direta.

DR – Quais equipamentos se destacam na produção de itens de Páscoa?
Koblinsky Jr.– Não estamos diretamente envolvidos com equipamentos para fabricação de ovos de Páscoa, mas temos fôrmas de nossa representada Vormenfabriek, da Holanda, que é um dos maiores e mais tradicionais fabricantes no segmento de moldes para produtos ocos. Também operamos com instalações da Netzsch para fabricação de massas de chocolate e compounds, através das tecnologias MasterConch (rápida troca de produtos), MasterRefiner (de moinhos horizontais de esferas) e MasterCream (para reprocesso de wafers, ovos e massa de chocolate).

DR – E quais os destaques em itens não sazonais?
Koblinsky Jr. – Um dos produtos que também tem seu pico na Páscoa são as caixas de variedades, com pequenas amostras de produtos de linha dos grandes fabricantes de chocolate. São vistos pelo consumidor como uma alternativa barata aos ovos de Páscoa. Nesse caso, temos a nossa representada Cremer, da Holanda, que fornece linhas automáticas de contagem e dosagem desses produtos nas suas respectivas caixas. Aliás, temos algumas linhas instaladas no Brasil, já operando há muitos anos.

DR – Qual a expectativa para a ala de máquinas para chocolate nos próximos anos?
Koblinsky Jr. – Esperamos que haja um incremento nos volumes. Porém a capacidade ociosa provocada pela crise ainda é grande e deve levar algum tempo para novos investimentos em aumentos de capacidade. Esses movimentos de ampliação ocorreram até 2012/13, e com a crise, a capacidade adicional ficou praticamente ociosa. O movimento atualmente é a corrida pela automação, redução de mão de obra, aumento de eficiência, redução de custos de limpeza e manutenção, sem um aumento direto de potencial de produção – que pode ser uma consequência do processo de automação, sem aumento de quantidade de linhas. Nesse campo, temos atuado com certa força em sistemas de automação de linhas existentes com a nossa representada alemã Bosch e suas tecnologias de embalagem. •

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