O cinto apertou

Os brasileiros gastam menos com entretenimento, doces e refeição fora de casa
André Euphrasio
André Euphrasio
André Euphrasio

A atual desaceleração da economia brasileira força os brasileiros a reduzirem o consumo de muitos produtos e serviços. Uma pesquisa recente de âmbito nacional da Mintel revela que mais de metade dos brasileiros (56%) atualmente compra menos serviços relacionados a vida cotidiana, como comer fora e entretenimento – inclusos gastos com doces, snacks e guloseimas –, em comparação com um ano atrás. Ao analisarmos esses serviços separadamente, o estudo mostra que 33% dos brasileiros afirmam que estão gastando menos com alimentação fora de casa, como em restaurantes fast-food; 29% estão saindo menos para entretenimento fora do lar e 23%, consumindo menos atividades esportivas, a exemplo de gastos com mensalidade de academia.

Quando somente as áreas de alimentação e bebida são pesquisadas, a amostra revela que a maioria dos brasileiros (66%) compra a mesma quantidade de produtos em comparação com um ano atrás, enquanto 52% consomem menos e 37%, compram mais. A maior queda é percebida em produtos alimentares não essenciais de marcas conhecidas, como chocolates e biscoitos, reduto em que 31% dos consumidores dizem consumir a mesma quantidade e 30%, menos. Quando a classe média é analisada separadamente, inclusos os grupos socioeconômicos C1 e C2, 65% afirmam gastar o mesmo com comida e bebida; 51% despendem menos e 38% torram mais.

O levantamento indica ainda que os jovens consumidores de classe média são menos cautelosos do que seus colegas mais velhos. Apesar de uma queda nos padrões de consumo em todos os grupos pesquisados, os consumidores mais jovens, com idades entre 16 e 34, estão comprando mais em todas as categorias, quando comparado ao consumidor de 35 anos ou mais. As categorias em que estão gastando mais incluem, por exemplo, produtos não essenciais de marcas conhecidas, postura confirmada por 27% dos jovens. Já comer fora em restaurantes de fast-food foi mencionado por 24%.

Como a maioria dos consumidores, atualmente, compra a mesma quantidade ou menos, comparado há um ano, as empresas devem se adaptar a essa realidade. Ao mesmo tempo que vemos o número de opções de serviços e produtos crescer, os consumidores limitam os seus gastos devido à recessão. Assim, empresas e marcas que consigam criar experiências inesquecíveis e originais podem ter sucesso em atrair e manter a atenção dos consumidores. Elas precisam ser criativas para conquistá-los. Nesse contexto, há oportunidades para parcerias que ofereçam, por exemplo, promoções ou descontos relacionados a atividades de lazer e saídas para comer fora.

Diante do atual clima econômico, os consumidores de classe média estão mais dependentes de seus cartões de crédito. A pesquisa Mintel revela que 18% dos consumidores dos grupos socioeconômicos C1/C2 dizem que dependem mais dos cartões de crédito em comparação com um ano atrás. Por sinal, essa dependência é ainda maior entre os grupos A/B, chegando a 21%.

Alguns consumidores precisam contar com membros da família e amigos para enfrentarem os tempos difíceis. Por sinal, 18% dos brasileiros, incluindo 16% dos grupos A/B, 18% dos C1/C2 e 21% dos D/E concordam com a frase: “Tenho dificuldade em arcar com meus gastos totais, sem pedir ajuda financeira para outras pessoas (por exemplo, meus pais, parentes)”. Mas apesar de enfrentar dificuldades financeiras, o consumidor de classe média não está trocando seus serviços por opções mais baratas. A pesquisa mostra que apenas 11% dos consumidores C1/C2 dizem ter mudado o fornecedor de um serviço por um outro mais barato, como TV paga, academia e saúde privada. Entre as classes A/B, esse índice é de 20%.

A pesquisa também mostra que a sustentabilidade é importante para os brasileiros. Um quarto (25%) dos consumidores, incluindo um em cada cinco ( 21%) dentro dos grupos C1/C2, concordam com a afirmação:  “É nossa responsabilidade como cidadãos usar mais produtos que possam ajudar na preservação do meio ambiente.”

Como vários consumidores estão mais dependentes de cartões de crédito, eles podem querer experimentar opções mais baratas e mais práticas, tais como serviços de crédito acessível e conveniente por meio de um aplicativo de celular, com taxas de juros mais baixas e excelente serviço ao cliente. Em complemento, a pesquisa mostra que alguns consumidores de classe média não estão à procura de alternativas mais baratas para serviços ligados a vida cotidiana, possivelmente devido ao fato de que acham que vai ser inconveniente fazer alterações ou não estão dispostos a gastar tempo procurando alternativas mais em conta. Por isso, as empresas que oferecem melhores ofertas do que seus concorrentes devem investir em atrair consumidores e mostrar que vale a pena trocar de provedor. E apesar do clima econômico atual, os brasileiros estão dando importância à sustentabilidade. Os consumidores modernos estão aprendendo que ser ecológico não é somente bom para o planeta, mas também para o bolso. Assim, empresas e marcas com produtos que incorporam essas duas características, certamente, têm mais chance de sobressair. •

(*) André Euphrasio é analista de mercado da Mintel.

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