O brilho da diferença

Inovações bem-vindas reforçam o giro de balas de goma, de gelatina e marshmallows

ursinhoAo perceber a dificuldade de reverter um quadro de demanda beirando à saturação, a indústria de candies partiu para inovações no mix. Entre elas, as balas diferenciadas de gelatina, de goma e os marshmallows se impõem como uma nova categoria e coqueluche atual na produção de confeitos. Assim, um consumo antes atendido primordialmente por importações ganhou mais opções locais, com o setor se equipando com linhas atualizadas. Ao contrário de outros tipos de candies com demanda madura, essas variantes têm conseguido reativar o consumo de um público quase decepcionado diante de poucas inovações nas linhas. Multicoloridas, de formatos, texturas e sabores inusitados, essas novidades encantam, principalmente, as crianças e adolescentes. Apesar do perfil popular das balas de goma tradicionais, as versões recentes incorporam tecnologia tanto no processamento quanto na apresentação, com embalagens atraentes e maior visibilidade nos pontos de venda (PDVs), agregando maior valor às operações da indústria e do trade.

Dados da Euromonitor International, indicam que a demanda brasileira de balas de goma e de gelatina cravou alta de 1,3% em volume no último ano em relação ao exercício anterior, subindo de 104,7 mil toneladas (t) para 106,1 mil t. A estatística incorpora as vendas de pastilhas e chicles e exclui as demais modalidades de candies. Em valores, o salto foi ainda maior, com a categoria registrando alta de 8,6% em 2015 versus o período anterior, saindo de R$ 2.183,1 milhões para R$ 2.371,3 milhões (ver quadro ao lado). Vendas como essas instigam a participação cada vez maior de concorrentes.

É o caso da alemã Haribo que, desde o ano passado, opera uma planta no interior de São Paulo. Responsável pela universalização da guloseima em formato de ursinho (gummi bear), ao criá-la há mais de 90 anos, a empresa é hoje a número um global da categoria, com produção estimada em 100 milhões de unidades por dia, repassa Fabio Alcalá, gerente de marketing e trade marketing da subsidiária brasileira.

Em maio passado, a Haribo fez a sua primeira aparição como fabricante local de candies na feira da Apas (Associação Paulista de Supermercados), aproveitando o evento para anunciar o ingresso da marca no mercado brasileiro a partir da fabricação de suas principais linhas de guloseimas. Em operação comercial desde julho de 2015, a unidade opera a partir da aquisição de parte do complexo da Sukest, em Bauru (SP), onde produz 26 SKUs (Stock Keeping Unit), entre os quais as consagradas Happy Cola, Chamallows Barbecue, Tropifrutti e Wummis Zourr, alinha Alcalá. “Alguns itens, como os Ursinhos de Ouro, a Balla Sticks e a linha de regaliz, ainda são importados para complementar o mix, mas na medida em que a planta for elevando a produção, iremos também produzir esses confeitos aqui”, informa o executivo.

Segundo ele, a fábrica brasileira é a primeira da marca fora da Europa, onde possui 14 unidades. O plano da companhia é elevar a participação das exportações para fora da União Europeia, hoje em torno de 30% da produção naquele continente. “O Brasil é o segundo maior mercado de balas do mundo e, mesmo assim, apresenta um baixo consumo per capita. A ideia é conquistar o paladar dos brasileiros com a qualidade que só a Haribo possui”, resume.

Lançamentos sistemáticos
Uma das desbravadoras do filão de balas de gelatina, a espanhola Fini praticamente introduziu a produção local da categoria há 15 anos, quando inaugurou sua planta em Jundiaí (SP) – também a única unidade do grupo Sánchez Cano, detentor da marca, fora da Europa. Segundo a empresa, na cena atual, a venda dessas linhas representa algo em torno de 60% do faturamento da companhia, que é reforçado com linhas de marshmallows, chicles e regaliz (tipo de balas de gelatina que incorpora amido na formulação). Além de inovar o mix, a Fini ingressou no varejo, com um modelo de lojas próprias, que estreou há quatro anos em parques temáticos.

Referência na produção de pastilhas e balas de goma, a gaúcha Docile iniciou a produção de gomas de gelatina em 2009. “Mas foi em 2011 que elas ganharam mais força, com o lançamento da linha Doci Gummies, que ampliou a gama de formatos e sabores”, comenta Ricardo Heineck, diretor de marketing da indústria baseada em Lajeado (RS). Para complementar a oferta nesse filão, a empresa introduz sistematicamente lançamentos, entre os quais sobressai a linha de marshmallows Doci MaxMallows, com diversos formatos, alguns exclusivos, nos sabores baunilha e morango, completa o executivo. “É um mercado que vinha crescendo pelo ganho de poder de compra da classe C impulsionado por segmentos como o de festas”, avalia.

Com atuação tanto em gomas de gelatina como em balas de goma tradicionais, a Docile considera que este último reduto se mantém atrativo por desfrutar de um certo saudosismo nos adultos, conquistando facilmente os mais jovens e crianças pelo sabor e textura agradáveis. “Já as balas de gelatina têm um apelo mais saudável, em função da matéria-prima, que permite explorar formatos e cores, atraindo consumidores de todas as idades”, observa Heineck, completando que, na mesma linha, os marshmallows, além de decorarem mesas de doces, são mais apreciados pelo público jovem.

Ele enfatiza, entre os pontos altos do portfólio, as versões Beijo e Brigadeiro, que reforçam a linha Doci Gummies. A primeira é uma bala de gelatina aerada no sabor morango, levemente azedinha. Já a de Brigadeiro apresenta o formato e sabor do autêntico doce brasileiro, incorporando licor de cacau na formulação. “Outro destaque da marca é a Cróc Gummies, a primeira bala de gelatina com casquinha crocante, uma inovação disponível nos sabores frutais e mentolado”, arremata Heineck. Entre as tacadas recentes ele inclui as balas Pezinho e Pezão. Lançamento lúdico que se encaixa na proposta de misturar sabor e brincadeira, é mais um formato exclusivo e inovador para a linha Docile Gelatines, idealizada para adultos e crianças. Os formatos de pé em dois tamanhos vêm misturados na mesma embalagem, garantindo a brincadeira para os consumidores, detalha Heineck. As cores variam conforme os sabores (banana, morango, tangerina e tutti-frutti) e o solado, de coloração clara, vem no sabor baunilha. Apresentada em embalagens de 80g e 300g, a novidade também é rica em detalhes: além dos dois tamanhos, os pés calçam sandálias e o dedão com a unha quebrada é outro aspecto criativo.

A formação do boom

Precursora das balas de gelatina e marshmalows via importações, a All Alimentos ingressou no filão em meados da década 90 junto com o surgimento da categoria no Brasil. “Operávamos como distribuidores regionais da marca Park Lane que, na época, pertencia a uma empresa alemã com filial em São Paulo”, rememora Carlos Eduardo de Paula e Silva, diretor da trading baseada em Vila Velha (ES). Por sinal, foi ela que introduziu os displays do tipo boca de lobo em acrílico e fomentou PDVs alternativos aos quiosques e lojas no formato pick-and-mix disseminada em shoppings centers, levando a oferta a lojas de conveniência, padarias e delicatessens.

Esse período embrionário, relembra Paula e Silva, forneceu uma visão do potencial de consumo dessas guloseimas, quando a empresa decidiu investir na importação direta. “No final de 1998, fechamos parceria com trading catalã IAT España para operar a importação e distribuição no Brasil da marca e produtos Fini Golosinas. Apostamos então na popularização da categoria via introdução dos potes com 200 unidades no varejo tradicional, onde os irreverentes formatos, como de dentaduras e minhocas, eram vendidos a R$ 0,10 cada”, situa o empresário. Para ele, a “festa” foi tão grande que chegou ao conhecimento do fabricante na Espanha (grupo Sánchez Cano, detentor da marca Fini) e, três anos depois, o grupo inaugurou a primeira fábrica do setor no Brasil.

“Fomos convidados a dirigir o novo negócio no Brasil, mas como a tarefa impunha o encerramento de nossa empresa em Vila Velha, optamos por seguir independentes”, argumenta o dirigente da All Alimentos. Em 2001, a All Alimentos acertou nova aliança comercial com a fabricante também espanhola Vidal Golosinas, que se mantém firme até hoje. •

Tradição atualizada
Com planta também em Lajeado, a Florestal Alimentos engrossa a concorrência na cena de balas de goma, de gelatina e, mais recentemente, de marshmallows, com novidades no seu portfólio. Dona das marcas Flopinho e Gominha do Coração, a empresa também acrescenta constantemente itens diferenciados, a exemplo das balas de goma mentoladas. “Elas incorporam como atributo principal o efeito refrescante, produzido pela adição de mentol”, repassa Adriano Orso , gerente de marketing da indústria gaúcha. Ele acena com novidades na linha Gomania, que transformam as tradicionais balas de goma nas versões de sabores mais consumidas em festas. A Gomania Brigadeiro e Beijinho reúne na mesma embalagem o sortimento dos dois docinhos de festa mais apreciados em todo o Brasil, grifa ele.

Já o Gomania Mousses é uma combinação dos tradicionais mousses de maracujá, limão e morango em um sortimento colorido, nas mesmas opções de embalagem da versão de doces de festa. Todos os sabores da bala de goma Gomania têm aspecto leitoso, proporcionado pela formulação especial, reforçando o apelo de docinho de festa. O formato para as duas versões em pacote é o de um flan, sobremesa muito apreciada pelos brasileiros. “Esse aspecto mais elaborado e o colorido dos produtos deixam a linha ainda mais atraente. Todas as versões se destacam pela cremosidade e sabor fiel aos doces correspondentes”, frisa Orso.

Já a marca Boavistense, controlada da Florestal, pavimentou os primeiros passos em direção a uma linha de marshmallows diferenciada, com a introdução do minimarshmallow Banzé e o Party Mallows. A versão com a tradicional marca de balas Banzé sobressai na categoria por incorporar recheio de bala de gelatina, disponível em pacotes para consumo individual, contendo 30g em duas diferentes versões de sabor (marshmallow de tutti-frutti com recheio de uva e marshmallow de tutti-frutti com recheio de morango), repassa o gerente.

Já a linha Party Mallow, complementa ele, é uma versão de minimarshmallows em duas opções de megapacotes contendo cerca de 2.200 unidades, ideais para compor mesas de festa. “Apesar de apresentar uma configuração relativamente simples, o Party Mallow se destaca pelo tamanho unitário, pelas cores e pela porção oferecida”, sustenta o gerente.

Outra empresa que optou pelo canal das importações para enriquecer seu portfólio de guloseimas é a gaúcha Soberana. A empresa iniciou as operações com marshmallows importados em 2008, ofertando apenas três formatos (Twister, Cilindro e Coração) com marca própria, com o objetivo de aumentar o mix e o valor médio dos pedidos, além de melhorar a rentabilidade, resume Rose Fistarol, gerente comercial da indústria sediada em Ijuí (RS). “Desde 2012, somos distribuidores da marca Guandy, da Guatemala”, informa a executiva. Ela conta que, devido à credibilidade e confiança no fornecedor, a empresa também incorporou a distribuição da marca Angelitos, que hoje totaliza mais de 50 SKUs com diferentes formatos, cores e tamanhos.

Nos últimos anos, posiciona ela, o consumo de marshmallows segue avançando ainda pelo chamariz de ser uma novidade. “A demanda evoluiu muito e já criou uma cultura em torno da categoria, a ponto de hoje os consumidores verem o produto como mais um item e não somente um doce para decoração de festas, ainda que o giro dominante seja para enfeite de mesas”, avalia a gerente. Ela relata que quando a Soberana introduziu os primeiros lotes, as vendas foram surpreendentes. “Em 2013 registramos crescimento de 100%, ainda que a base fosse pequena, mas desde então temos avançado na faixa de 20% ao ano, mesmo sob recessão”, argumenta Rose. Com o marshmallow no formato Twister como carro-chefe, a Soberana estima crescer 40% em relação a 2015.

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