Em tempos de queda geral no consumo e rentabilidade cada vez mais apertada, especialmente no reduto de candies, o segmento de balas e guloseimas à base de gelatina sobressai com margem até 400% superior a de confeitos tradicionais. Por conta desse ganho, atrai as atenções do trade doceiro, abrindo espaço para inovações e marcas, além de investimentos na produção. Enquanto o filão de balas duras e mastigáveis se mantém estável, a categoria de itens com gelatina, que inclui gomas e marshmallows, cresce muito acima da média do setor. Essa demanda mobiliza, por exemplo, a espanhola Sánchez Cano, dona da marca Fini, que reforça a sua produção em Jundiaí (SP). Em julho, a companhia iniciou a instalação de uma nova planta, que vai ampliar em 75% a capacidade atual. O projeto prevê investimento de R$ 70 milhões feito com recursos próprios a ser aplicado ao longo de três anos, confirma Donizeti Ferreira, diretor financeiro da Fini, assinalando que a meta é chegar à liderança do setor de balas de gelatina no país.
Distribuída em pacotes multicoloridos, a marca é vendida hoje em 180 mil lojas, mas o executivo prevê chegar a 250 mil pontos de venda (PDVs) em cinco anos. Segundo ele, há um grande potencial de expansão para balas enriquecidas com ômega 3, vitamina C, fibras e outros suplementos em redes de farmácias. “Existem no Brasil 90 mil farmácias e drogarias, porém estamos apenas em 20 mil desses PDVs”, grifa Ferreira, completando que essa diversificação vai cobrir uma parte do crescimento esperado na distribuição.
A versatilidade da gelatina como ingrediente nas aplicações justifica a ascensão do segmento. O insumo é utilizado em uma grande variedade de confeitos, sendo as balas e marshmallows os mais conhecidos. As guloseimas vêm conquistando a preferência tanto de crianças como dos adultos, fenômeno que explica o avanço desse mercado, apesar da conjuntura geral desfavorável ao consumo. Do lado do fornecimento, a indústria de confeitos conta com as principais fontes de gelatina, a maioria estabelecida com unidades fabris e centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Soluções e possibilidades
Responsável pelo fornecimento de gelatina e proteína de colágeno aos principais players do mercado mundial de snacks e confeitos, a Gelita também é referência no mercado brasileiro, onde seus ingredientes podem ser encontrados em ovos de páscoa, barras de chocolate, cookies, gomas de gelatina, barras de cereais, marshmallow, gomas de mascar, balas de caramelo mastigáveis, doces do tipo maria mole e suspiros, entre muitas outras guloseimas, elenca Eduardo Araújo, gerente de marketing e comunicação da companhia.
A gelatina é uma proteína pura e natural, com propriedades que permitem infinitas soluções e possibilidades para os mais variados tipos de balas e confeitos, comenta o executivo. Nessas aplicações, acrescenta ele, o ingrediente confere aparência brilhante, cristalina e atraente. “A textura única, elástica e a agradável liberação de sabor provocam uma inigualável sensação no paladar, que nenhum outro ingrediente promove com tamanha perfeição, sendo ideal para a produção de balas e confeitos vitaminados, um mercado em franca ascensão no Brasil”, assinala ele, confirmando, inclusive, as expectativas da Fini.
Em alguns tipos de balas mastigáveis, prossegue Araújo, a gelatina atua como um excelente emulsificante, mas também pode ser usada como um agente gelificante (gominha) ou espumante (marshmallow/maria mole), fornecendo em todos os casos uma agradável sensação na boca dos consumidores.
O insumo também é ideal para a produção de “gummy bears”, como são chamadas as balas de goma com formato de ursinhos, introduzidas pela alemã Haribo que, desde 2016 opera uma fábrica no Brasil. A gelatina desempenha ainda papel essencial em confeitos à base de marshmallows. Também tem aplicações em linhas funcionais e saudáveis, com pouco açúcar e gordura, sublinha Araújo. “Um exemplo recém-saído do laboratório é a linha Valda Colágeno, de balas sem adição de açúcar e com apenas 5 kcal por unidade, que incorpora o colágeno Verisol, único com comprovação científica de resultados através da ingestão de apenas 2,5 g/dia, equivalente a cinco unidades dessa bala”, indica o gerente.
Além de contribuir com a redução das rugas e o aumento da hidratação e elasticidade da pele, estudos científicos comprovam que a suplementação com 2,5g/dia de colágeno Verisol é uma importante aliada no combate às causas da celulite, problema que afeta mais de 85% das mulheres adultas no mundo, ressalta Araújo.
Apelo saudável
Apesar da aparência, textura e sabor adocicado, a bala de gelatina tem um preço salgado. Dados coletados no varejo indicam que o quilo do confeito é vendido entre R$ 32 e R$ 67, enquanto o preço da bala dura/mastigável oscila entre R$ 7 e R$ 21 o quilo. Com apelo saudável, menos açúcar e colágeno na formulação, as balas de gelatina vêm seduzindo tanto o público infantil quanto o jovem adulto, mesmo com preço mais alto.
Pelo radar da consultoria de varejo Euromonitor International, a Dori Alimentos, uma das pioneiras na produção de balas de goma no país, ocupa a primeira posição desse ranking, com 14,7% de participação. A Fini é a segunda maior empresa em receita desse tipo de confeitos no país, com a fatia de 10,6%.
A produção total de balas e gomas no país cresceu 1,3% em volume no ano passado, totalizando 383 mil toneladas, repassa a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Segundo a Euromonitor, as vendas no varejo ficaram estáveis, somando R$ 2,19 bilhões no período. Mas para este ano, a previsão é de uma alta de 1%, alcançando R$ 2,21 bilhões.
Principal concorrente da Fini no Brasil, a Haribo comparecia às gôndolas brasileiras apenas com produtos importados. No ano passado, instalou sua fábrica em Bauru (SP) e, apesar de liderar globalmente o mercado de balas e confeitos de gelatina, com 6,9% de participação, ocupa apenas a oitava posição no Brasil, com 3,5%, cravam as planilhas da Euromonitor. A companhia alemã informa que decidiu ter produção local de balas de gelatina por conta do rápido crescimento da categoria no Brasil. •