Está difícil

O esforço do trade atacadista para equilibrar impacto dos aumentos de energia e combustíveis

Com índices de inflação em rota ascendente é praticamente certo que repasses de preços irão se intensificar em toda a cadeia de produção. No atacado distribuidor de candies os impactos nos custos logísticos seguem a mesma lógica. Além dos reajustes de energia, combustível e no frete, o setor foi também impactado pela valorização do dólar. Em São Paulo e em alguns outros mercados regionais, as tarifas de energia subiram mais de 50%. O reajuste médio no preço do diesel foi de R$ 0,15 por litro e, com isso, o setor estima que o frete sofreu encarecimento de 20% no início de 2015. Sem contar custos adicionais com dissídios, que ficaram na média de 8% acima da inflação, alguns realinhamentos ainda devem acontecer nos próximos meses. “Os aumentos da energia e nos combustíveis têm afetado muito a nossa operação. Temos até aqui equilibrado os custos e a única certeza é o que não vamos fazer. Não vamos diminuir o tamanho da operação e nem reduzir o conforto aos nossos clientes”, assinala Marco Heitor Pacheco de Mello, diretor de vendas e logística do Grupo Maranhão, rede atacadista que opera centros de distribuição em Catanduva e Itupeva, ambas no interior de São Paulo, cinco lojas de varejo e inaugura no próximo semestre sua primeira unidade de atacado no formato cash and carry, também em Catanduva.
No modelo adotado atualmente pelo grupo atacadista, toda frota é terceirizada, informa Mello. “Nossos transportadores têm sentido um forte impacto do aumento dos combustíveis e em custos como o de pedágios, algo em torno de 15-16%. Isso se reflete em negociações de reajuste de frete que têm sido frequentes”, observa o diretor. Com a inflação na casa dos 8%, acrescenta, os custos de estrada e combustível praticamente dobraram, impactando negativamente a operação. Para amenizar o choque, o Maranhão adotou uma estratégia de ajustes na roteirização, com cargas mais volumosas e consistentes de forma a conseguir ganhos de produtividade cada vez maiores, grifa o executivo.
Os reajustes pedidos variam de acordo com o frete para cada região e, evidentemente, de acordo com as distâncias. Mas em geral e na média se situam entre 5% e 10%. “São percentuais que penalizam o negócio pois, para sermos competitivos, temos que permanentemente manter os custos calibrados”, diz. De maneira geral, pondera Mello, esses custos que precarizam as operações acabam sendo repassados para o consumidor final. “Temos nesse sentido observado uma forte rejeição do comércio varejista a aumentos de preços. Mas não é justo para quem produz e distribui arcar com todos os ônus”, enfatiza.
Na Granado, distribuidora baseada em Sorocaba (SP) e cobertura estendida a um raio de 150 quilômetros, o diretor Alessandro Granado estima o impacto do aumento nos combustíveis nos custos de frete em torno de 20-25%. “O aumento foi significativo este ano em função de diversas variáveis, além dos combustíveis e energia, e está sendo bastante pesado para uma operação de distribuição”, lamenta. Até o momento, no entanto, nenhuma direção fora da que a empresa vinha adotando no sentido de amenizar os custos foi adotada e a Granado não cogita cortes em sua operação. “Estamos na expectativa do que vai acontecer na economia, vendo se há alguma melhora no sell out (venda indireta). O mercado começou o ano ruim e está parado”, avalia o atacadista.
Apesar de não ver sinalização de melhora nesse início de ano, a Granado vem de uma escalada de crescimento até o ano passado. Boa parte dessa performance positiva deriva do portfólio de confeitos da distribuidora, com 40% preenchidos por linhas de itens importados, como os chocolates suíços Lindt, as balas Altoids e os biscoitos premium Bahlsen. “Operamos com produtos de maior valor, que são importados e, por conta disso, outro fator que tem impactado os custos é a alta do dólar”, queixa-se Alessandro, situando em 20% a valorização do câmbio no primeiro trimestre. “Só em março a alta foi de 12%”, assinala. Com esse agravante, complementa ele, o custo do frete em janeiro 2015 aumentou 4% em relação ao mesmo período do ano passado. Já em fevereiro subiu para 12,6%, em função da incidência do aumento dos combustíveis naquele mês.
“A elevação dos custos para uma operação logística tem vários fatores, incluindo cálculos de distância, estoques, inventário, embalagem, movimentação etc. A minha percepção é que subindo os valores vai haver um aumento gradativo na cadeia, que vai incidir na ponta”, observa o atacadista. Além disso, segue ele, 2015 começou truncado pelo cenário político e um pessimismo generalizado. Esse humor vai se dissipando aos poucos, mas afeta diretamente as vendas. “A expectativa é que esse pessimismo dê lugar a um sentimento que faça o consumo reagir aos poucos. O pessimismo é o pior cenário para o trade. Ele para de comprar e a gente para de vender”, resume.

Produtos premium
Entre as operações pioneiras de pronta-entrega na região de Sorocaba (SP), a Granado abriu as portas 35 anos atrás promovendo a distribuição de doces das marcas Tostines e De Malta, entre outras, em caminhão próprio pelos arredores. Nos anos 1990 a empresa virou a página, mudando a operação de pronta-entrega para pré-venda. “Essa transformação foi crucial porque permitiu iniciarmos a distribuição dos primeiros produtos importados”, relembra Alessandro. À época, prossegue, desembarcavam no país os primeiros itens da americana Amurol Confections, fabricante das gomas de mascar Ouch e Bubble Gum Tape. “Passamos a ser conhecidos pela distribuição de produtos diferentes e inovadores, a maioria premium, mas não necessariamente importada”, comenta o distribuidor, dimensionando as vendas dos inéditos chicles americanos em 50-100 caixas de embarque por mês. Com a aquisição da Amurol pela Wrigley’s (depois incorporada à Mars), o mercado brasileiro saiu dos planos da marca americana. A Granado, porém, seguiu no reduto, incorporando no portfólio a linha de gomas de gelatina, inexistente por aqui na época, da espanhola Sánchez Cano, detentora da marca Fini Golosinas, que ensaiava aterrissar no país. A distribuidora hoje opera com dez categorias e marcas, desdobradas em mais de mil SKUs (Stock Keeping Unit) que, além de indústrias de candies locais, incluem as balas da alemã Haribo e os biscoitos da belga Jules Destrooper, além dos wafers da italiana Loacker. Também encorpam o mix a linha de chocolates das americanas Russel Stover e Hershey’s. O quadro operacional conta com 22 vendedores, além de equipe de televendas, e infra logística que dispõe de nove veículos e galpão verticalizado de 1.200 metros quadrados, com câmara fria para acondionamento de chocolate. “As entregas são feitas em veículos convencionais sem refrigeração, mas os chocolates são acomodados em caixas de proteção com manta térmica, que asseguram a sua integridade e qualidade”, sublinha Alessandro. Ele calcula que, atualmente, cerca de 50-55% das vendas referem-se às linhas de candies (balas, caramelos, chicles e gomas de mascar) e 30%, às de chocolate, pulverizando o percentual restante pelas demais categorias de guloseimas. A clientela inclui desde pequenos varejos, lojas de conveniência e bonbonnières a redes de supermercados, padarias e mercearias, totalizando 2.300 pontos de venda (PDVs) cadastrados. “Positivamos mensalmente em torno de 1.500 PDVs, com pelo menos uma venda”, repassa o dirigente.

Geradores de energia
Mello, do Grupo Maranhão, completa que no tocante a reduções de custos, a distribuidora tem utilizado diversas ferramentas, a exemplo de geradores de energia. “Agora estamos trabalhando na chamada bandeira vermelha, buscando adequações para não repassar qualquer ônus ao consumidor final”, afirma. No momento, o desafio é readequar a estrutura, buscando nos mínimos detalhes mais reduções de custo, de maneira a não permitir que a conjuntura afete o quadro de colaboradores ou os projetos de expansão da rede.
Em 2014 a empresa cresceu nominalmente 2-3%, crava o diretor. Ele avalia que foi um resultado um pouco abaixo do ritmo da companhia nos últimos anos em função de readequações de portfólio e ajustes no mix de produtos. A empresa, no entanto, segue a trajetória do setor atacadista distribuidor como um todo, com avanço nominal sempre acima dos demais indicadores da economia e, nos últimos dez anos, dobrou seu faturamento. “Estamos sempre em busca de alternativas e oportunidades de negócio, como os demais atores do setor. Para 2015, a expectativa é crescer em torno de 13% ou 5% nominalmente por conta de expansões, inaugurações de lojas, de todo um projeto de avanço do negócio que é intrínseco do grupo”, sublinha Mello.
Controlada do grupo homônimo, a Maranhão Distribuição nasceu há 45 anos na cidade de Catanduva (SP). Quase meio século depois, a empresa se consolida entre as maiores operações atacadistas do estado, atuando também no autosserviço, com uma rede de supermercados por onde circulam em torno de 10 mil pessoas diariamente. Com espectro de atuação que inclui, além de todo interior paulista, o Triângulo Mineiro e o Sul de Minas Gerais, mantém equipe especializada de representantes comerciais que atende principalmente o pequeno e médio varejo de um cadastro com 20.000 clientes ativos, visitados semanalmente. “Além disso, contamos com estrutura de televendas treinada e focada em um atendimento diferenciado à clientela”, assinala Mello.
Com cobertura que se estende a 427 municípios do Estado de São Paulo, o modelo de gestão da distribuidora se apoia em quatro pilares, acrescenta ele. O primeiro inclui a divisão de atacado generalista e atende supermercados de um a dez checkouts. A divisão tradicional cobre o pequeno varejo, lojas de conveniência, padarias e mercearias, entre outros pontos de venda (PDVs). O terceiro pilar abrange a divisão de perfumaria, focada no segmento de higiene pessoal e cosméticos, ficando a divisão de distribuição especializada com a missão de disponibilizar itens de fornecedores exclusivos para o maior número de PDVs. “Essa ala busca dessa forma o potencial de consumo de cada região, através do cumprimento das estratégias de preços, exposições e mix de produtos adequados a cada tipo de loja”, detalha Mello. Já a operação de supermercados conta com unidades em Catanduva, Santa Adélia e São José do Rio Preto, todas no interior de São Paulo, totalizando cinco unidades. O grupo soma hoje 5.200 metros quadrados de área de venda, 24.000 metros quadrados de espaço para armazenagem, corpo de 1.120 funcionários e mix de 5.500 itens (canal indireto) a 16 mil itens (canal direto). “Para a rede de supermercados, as projeções são de um crescimento de 20%, com a inauguração no próximo semestre de mais uma unidade em Catanduva e da primeira loja cash and carry da região”, sinaliza o dirigente.•

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