Enigma do ratio

Os preços do cacau executaram mais um movimento de sobe-desce ao longo de setembro. Inicialmente, tentaram novamente alcançar o nível de US$ 3.400 na Bolsa de Nova York, mas desta vez tiveram ainda menos sucesso que na tentativa anterior em julho. Frustrado o avanço, os preços entraram em queda ininterrupta e nos sete dias de operação entre 23 de setembro – quando haviam chegado ao seu auge – e 2 de outubro, despencaram US$ 220, voltando para o mesmo nível de onde haviam partido mais de um mês atrás. Os especuladores continuavam no comando do mercado como já vem ocorrendo há muito tempo, enquanto os principais vendedores comerciais, Costa do Marfim e Gana, perseguiam de maneira rotineira seus programas de vendas futuras e os compradores comerciais retraíam-se nas altas e procuravam abastecer-se nos momentos de recuo.
O cenário das atuais condições fundamentais do mercado mundial não sofreu maiores alterações. As perspectivas da demanda continuam fracas, devendo se refletir nas moagens do terceiro trimestre, publicadas nas próximas semanas. E a safra internacional de 2014/2015, que terminou no final de setembro, provavelmente apresentará um equilíbrio aproximado entre produção e moagens mundiais. Há, no entanto, incerteza em torno das perspectivas da produção da safra 2015/2016 que, na opinião de vários analistas, corre o risco de sofrer uma redução em função da recente falta de chuvas na África Ocidental e do efeito negativo que o evento climático El Niño – previsto alcançar o máximo da sua intensidade no final do ano – ameaça exercer sobre as safras da maioria dos países produtores.
Embora pouco comentado, há um elemento destoante do quadro da demanda supostamente fraca, que é o surpreendente aumento nos ratios da manteiga de cacau tanto no mercado europeu quanto no norte-americano. A partir de 10 de julho, quando havia chegado ao seu ponto mais baixo dos últimos dois anos com 1,89, o ratio do produto de origem africana no mercado spot ex-dock de Nova York avançou para 2,15, cotado em 25 de setembro, aumento que corresponde a uma elevação de 12,8% do preço por tonelada, de US$ 6.243 para US$ 7.043. Pergunta-se por que os preços da manteiga de cacau estariam subindo se não existe demanda, mas até agora não surgiu resposta. Diante desse “enigma”, enquanto ainda pouco tempo atrás vários analistas sustentavam que o volume das moagens era superior à demanda real, hoje começam a surgir opiniões exatamente opostas e, se esta alta persistir, as avaliações do quadro da demanda mundial poderão ser revistas.
Infelizmente, esse não é o caso do mercado brasileiro, atingido em cheio pela recessão e pela alta da taxa cambial do dólar. Se no mercado americano o preço da manteiga de cacau subiu 12,8% no período citado, sua alta em reais foi de mais que 40%. •

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