Ele não perde a majestade

Palco da Copa do Mundo, o Brasil polarizou em junho de 2014 as atenções de todo o planeta. Internamente, a agitação em torno do certame já suscitava a estimativa de uma elevação no giro de guloseimas e candies, com o direcionamento da oferta para itens licenciados ou alusivos ao evento. Mas nem a envergadura e porte de um campeonato mundial de futebol teve o condão de revitalizar a demanda interna de confeitos (confectionery). Em queda nos últimos três exercícios, o desenvolvimento econômico do Brasil contagiou o desempenho da indústria brasileira de guloseimas, ativando o alerta na produção e no trade. Apesar do esforço para crescer, o setor foi induzido a redimensionar a oferta em função de uma demanda menor, acentuando uma desaceleração geral desde então.
Assim, a primeira metade de 2015 refletiu o esgotamento desse processo, culminando com a pior campanha de Páscoa – ponto alto das vendas anuais de chocolate – dos últimos oito anos. Apesar das promoções de última hora alavancarem as vendas de chocolate na data, a campanha de 2015 teve o seu mais fraco desempenho desde 2007, quando a consultoria Serasa Experian acionou seu indicador de atividade do comércio e passou a medir as vendas pascais.
Segundo a empresa, no final da semana da comemoração (de 3 a 5 de abril) da Páscoa de 2015, o giro aumentou modestos 3,2% na comparação com o final de semana do ano anterior, quando a Páscoa caiu entre 18 e 20 de abril. Durante a semana, de 30 de março a 5 de abril, o crescimento foi nulo, replicando os níveis de vendas de idêntico período do exercício passado (de 14 a 20 de abril). Conforme opinião unânime dos analistas econômicos, com menos dinheiro no bolso em virtude da inflação alta nos primeiros meses do ano, os consumidores deixaram para comprar seus presentes de Páscoa nos últimos dias, aguardando as promoções do varejo.
Com faturamento anual acima de US$ 13 bilhões, o setor brasileiro de confectionery, entretanto, segue entre os cinco maiores mercados mundiais.
Enquanto a taxa média de crescimento global se mantém na faixa de 2% ao ano, o Brasil registra índice superior a 3%, capta a consultoria Euromonitor International, que assina a projeção no varejo nacional. Na cena atual, o país ocupa a terceira posição no ranking global da indústria de confectionery, atrás somente dos Estados Unidos e Reino Unido, repassa a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Cacau, Chocolate, Amendoim, Balas e Derivados).
O consumo per capita de balas e confeitos de açúcar no Brasil evoluiu de 1,5 quilo por habitante/ano, no início da década passada, para 2-2,5 quilos, na média dos últimos anos, cravando 2,01 quilos na atualidade. A exemplo da demanda de chocolate (2,83 quilos/habitante/ano), ele também varia bastante conforme a região do país. Pelas sondagens oficiais no varejo, parte de 0,50-0,95 quilo no Nordeste, alcança 2-3 quilos em alguns pontos do Sudeste (4,52-5,75 quilos no caso de chocolate) e cai para menos de dois quilos em outras regiões. Esses índices, no entanto, são considerados baixos e demonstram que as vendas de chocolates e candies ainda contam com muito espaço para expansão. Motivada por esses indicadores, a indústria nacional investiu em tecnologia e expansão de capacidade ao longo da última década. Entre os exemplos recentes consta o investimento do grupo gaúcho Vonpar, apostando fichas na integração das operações e expansão da Neugebauer, tradicional indústria chocolateira hoje sob seu controle (ver à pág. 8). Também a subsidiária local do grupo Ferrero anunciou a ampliação de sua fábrica em Poços de Caldas (MG).
Por seu turno, operações internacionais também assediam o mercado doméstico. Esse é o caso da joint-venture do Grupo CRM, detentor das marcas Kopenhagen e Chocolates Brasil Cacau, com a suíça Lindt no ano passado. Depois de anos sondando o mercado brasileiro, via parceria com a importadora Aurora, a marca  europeia de chocolate premium decidiu investir em uma rede de lojas no país. A joint-venture formalizada entre a companhia brasileira e a corporação Lindt & Sprüngli criou a L&S Holding. Pelo acordo firmado, o grupo suíço fica com 51% da empresa que vai administrar as lojas da marca no Brasil e o CRM assumiu a fatia restante. A princípio, os pontos de venda (PDVs) serão próprios, mas os planos visam promover uma expansão por meio de franquias. •

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