Ela continua a n.º 1

Maior vitrine mundial de candies se reinventa e antecipa o futuro da indústria
Tenista Maria Sharapova grife Sugarpova estreia na ISM com linha de chocolate premium.

Montada no começo de fevereiro na cidade de Colônia, na Alemanha,  a ISM – Feira Internacional de Doces e Biscoitos, maior vitrine global do setor de confeitos (confectinery), transcendeu mais uma vez. Além de superar os índices de participação e visitação, com mais de 1.600 expositores, contra 1.528 no ano passado, e público de 38.500 visitantes, 4% superior ao de 2015, sinalizou novas correntes a serem seguidas pela indústria mundial. “Sem contar inovações nas categorias de doces e guloseimas convencionais, a ISM acomoda desde o ano passado segmentos inéditos na feira, como café e produtos gourmet, destacando na mostra deste ano itens para o chamado mercado de merendas”, comenta Brena Bäumle, diretora da Bäumle Organização de Feiras, representante no Brasil da Feira de Colônia (Koelnmesse), organização responsável pela ISM. Ganharam assim os holofotes, principalmente entre os puxadores de tendências, linhas de lanches e snacks do tipo to-go e small-lunch, “consolidando um conceito típico das cidades grandes, onde as pessoas fazem suas refeições no escritório”, sublinha a executiva. Em paralelo à exibição de produtos acabados, ressalta Brena,  a ProSweets Cologne – Feira Internacional do Fornecedor para a Indústria de Doces e Guloseimas ganhou mais uma edição, reunindo cerca de 300 expositores, entre as principais grifes internacionais de máquinas e insumos para confectionery. Entre os pontos altos da ISM 2016, ela sublinha a estreia da grife Sugarpova, de confeitos inspirados na moda e diversão, criada pela tenista Maria Sharapova, presente in loco com uma linha de chocolates premium, e uma atração revolucionária, bancada pela marca alemã Katjes, eleita a maior inovação da feira. Foi a primeira vez que se teve registro da aplicação de uma impressora 3D para a confecção instantânea de balas de goma em formatos e cores diversos (ver à página 12).

Numa ofensiva para ampliar a exportação de candies articulada pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o projeto Brasil Sweet and Snacks promoveu a participação de 14 empresas das alas de chocolates, balas e confeitos na ISM. Com a demanda doméstica em fogo brando, o setor partiu com tudo para cima do mercado externo, aproveitando principalmente o sopro do câmbio a favor. “É sempre uma oportunidade para a indústria, pois gera visibilidade para nossos produtos, além de constituir oportunidade para o setor se relacionar com o mundo inteiro”, argumenta Romualdo Silva, vice-presidente de exportação da Abicab, reconhecendo a competitividade aguçada pela desvalorização do real. Sem mencionar números, ele frisa que o Brasil, todos os anos, garante a partir dos contatos na ISM o fechamento de embarques expressivos e essa expectativa para 2016 foi plenamente alcançada. Na edição de 2015, relembra o dirigente, os negócios fechados durante o evento totalizaram US$ 9,7 milhões. Já os contratos futuros alcançaram US$ 32,2 milhões, assinalando um crescimento de 71% comparado à participação do país na ISM de 2014, quando as prospecções atingiram US$ 18,9 milhões. “Vamos no mínimo empatar o volume de negócios costurados em 2015”, avalia Silva.

Também ligada nas oportunidades geradas pela principal plataforma de negócios e lançamento de tendências e inovações do cenário internacional de doces, snacks e biscoitos, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) levou a tiracolo oito empresas associadas, todas participantes do projeto Happy Goods de exportação, mantido pela entidade em parceria com a Apex-Brasil. Com o tema O Futuro e o Coração dos Doces e Aperitivos, grifes como Bauducco, Bela Vista, Casa Suíça, Cory, Dauper e Marilan exibiram linhas de biscoitos de todos os tipos, bolos, panetones e salgadinhos, entre outros itens. “A estimativa preliminar é a de um volume de negócios em torno de US$ 4 milhões, atingindo compradores e distribuidores dos EUA, Canadá e México, além de países da América Latina, África, Oriente Médio, União Europeia e Leste Europeu”, informa Claudio Zanão, presidente da Abimapi.

Chocolate premium
Em sua terceira participação na ISM, a indústria de chocolates premium Nugali já havia incorporado o tópico exportações no seu planejamento. Por esse motivo, certamente não foi o benefício do câmbio a favor que pesou na decisão de seguir para a Alemanha. “Temos a exportação como um dos objetivos e, apesar do câmbio ultimamente ter se tornado mais favorável, no segmento premium não é possível decidir exportar ou não somente como reflexo da cotação da moeda”, argumentam Maitê Lang e Ivan Blumenschein, diretores da Nugali Chocolates, alertando que o embarque de produtos envolve relações comerciais de na média um ano de duração para se concretizar e, nesse período, o cenário cambial pode mudar.

Aproveitando a curiosidade despertada nas primeiras aparições, a Nugali lançou na feira o Dragée de Banana, da linha Cacau em Flor, produzido com bananas liofilizadas recobertas por chocolate amargo 60%, elaborado com cacau de origem única do Brasil, repassam os sócios Maitê e Blumenschein. A novidade, completam, segue o padrão da marca que tem apostado cada vez mais em produtos com apelo de brasilidade, valorizando não somente os cacaus de aroma brasileiros, mas também outros ingredientes típicos, como a castanha-do-pará, a banana e o açaí. “Temos buscado um diferencial no mercado internacional”, frisam os diretores. Até o momento cerca de 5% da produção seguem para as exportações, que se iniciaram no ano passado, com embarques para o Japão, Emirados Árabes e Estados Unidos.

Já em sua oitava participação consecutiva e uma decorrente maior desenvoltura nas exportações (embarques para 34 países), a Harald busca conquistar a clientela internacional operando em todas as frentes do negócio de chocolate, diferenciando-se da atuação que imprime no Brasil. Entre os pesos-pesados locais do segmento de cobertura (chocolate industrial), a empresa seguiu este ano para a ISM com sua linha de chocolates premium para varejo, informa Milena Boggio, gerente de exportação da companhia. “O câmbio atual ajuda as exportações obviamente, mas não é a maior motivação para nossa participação na ISM”, sublinha a executiva. Ela acrescenta que o destaque nessa edição foi a linha Harald Unique 80g, que sobressai por agregar na formulação uma exclusividade da marca: cacau fino de origem controlada. “A linha Unique de chocolates gourmet  é produzida com cacau fino nacional, originário de fazendas selecionadas da Bahia e do Pará e compõe a mais sofisticada e completa coleção de chocolates de origem produzida no Brasil”, enfatiza a gerente. Ela esclarece que a chancela de procedência declarada, garantia da origem de um chocolate superior, leva em conta a localização geográfica, qualidade do solo, fontes de água, cultivo da amêndoa e o rigoroso processamento do cacau.

ISM 2016 tecnologia, moda e gastronomia, com participação de chefs e celebridades.
ISM 2016 tecnologia, moda e gastronomia, com participação de chefs e celebridades.

Mostra paralela
Veterana na ISM, a Jazam marcou seu maior tento nessa sua 12.ª participação, inserindo um de seus lançamentos na mostra paralela New Product Showcase: The Top Innovations. “Apresentamos em primeira mão as linhas Coloreti Festa e Coloreti Festa Amore que, com a exposição entre os produtos mais inovadores da ISM, atraíram público extra em nosso estande”, relata Adriano Gabaldi, gerente de exportação da Jazam. Ele compartilha a mesma opinião dos dirigentes da Nugali, quanto à influência do câmbio na motivação para participar da feira. “A Jazam frequenta a ISM há 12 anos e, independentemente da cotação do dólar ser favorável ou não, a exportação faz parte da estratégia da empresa”, frisa Gabaldi, contabilizando embarques para mais de 40 países.

Na Embaré, outra tradicional frequentadora da mostra, o supervisor internacional de vendas Felipe Antunes também pondera que o câmbio a favor certamente é um fator que estimula a exportação. “Porém, não é o único ponto considerado para a participação em feiras como a ISM. O principal foco é encontrar atuais clientes, que não visitamos todos os anos, e discutir estratégias, além de abrirmos contatos com novos potenciais parceiros”, sublinha o executivo. A Embaré aproveitou o evento para lançar a linha de caramelos Yogurt, apresentada em embalagem sortida de 150g e 840g, nas versões de abacaxi e melão; melancia e manga e abacaxi, melão, melancia, manga e banana.

Sem abrir valores, Antunes comenta que o bom resultado obtido na ISM 2016 foi em parte decorrente da maneira mais objetiva de expor os produtos. O foco na exposição de itens de maior sinergia com os mercados otimizou a programação produtiva e agilizou o processo de entrega aos clientes. Anteriormente, ele detalha, o tempo de espera (lead time) era mais longo, por conta das linhas serem muito específicas para exportação, gerando quebra de estoque ou atraso na entrega. “A mudança das embalagens de toda a gama de produtos também atraiu mais visitantes e acredito que tenha sido um ponto chave para captarmos novos clientes”, frisa o gerente. Atualmente, ele conclui, as exportações para 45 países representam cerca de 25% das vendas da linha de caramelo da empresa.

Uma das precursoras da participação do Brasil na ISM, a Simas vê com cautela as oportunidades geradas pela competitividade afiada na base do câmbio. Luiz Eduardo Simas, diretor de exportação da empresa, observa que, por conta desse quadro, o momento é bastante favorável para a retomada das exportações que o setor já alcançou no passado. “Mas não podemos esquecer do aumento de custos que estamos sofrendo em todos os aspectos, principalmente no açúcar, a principal matéria-prima. Precisamos recuperar os volumes, não só pelo câmbio favorável, mas também pelo mercado interno que está bastante retraído nesse início de ano”, considera ele. Para o diretor da Simas é importante evitar uma guerra de preços e recair na vala dos produtos de baixíssima qualidade de alguns concorrentes mundiais.

Entre os destaques do portfólio da Simas apresentados na ISM, ele inclui a linha Chocomelo, de pirulitos de 14g, com capa de chocolate e leite e recheio de caramelo de leite. “Além disso, trabalhamos intensamente a linha de pirulitos e balas como um todo, enfatizando que podemos oferecer uma variedade que nos diferencia dos concorrentes”, assinala Simas. Sem abrir volumes, ele informa que a empresa exportou para 30 países em 2015.

Com exportações para mais de 60 países nos últimos dois anos, a Peccin fecha com os demais expositores do Brasil que a ISM é sempre uma oportunidade geradora de visibilidade. “A questão do câmbio favorável para as empresas brasileiras não é a motivação da nossa participação na ISM”, frisa Dirceu Pezzin, diretor presidente da indústria. Como os lançamentos da marca estão programados para acontecer, principalmente, no período de abril a agosto, a Peccin enfatizou na feira a diversidade do mix atual. Para Pezzin a projeção é de que as exportações em 2016 fiquem entre 20% e 25% do faturamento. •

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