Ainda longe da indústria 4.0

Quatro anos consecutivos de queda no faturamento levaram a indústria nacional de máquinas a receber com reticência a previsão de alta de 5% na receita líquida no presente exercício. Divulgada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) no primeiro semestre, ela se apoia na visão mais otimista do mercado de bens de capital, que enxerga a mesma proporção de crescimento para o consumo aparente (vendas no mercado interno e importações) do setor. Segundo a entidade, esse percentual, no entanto, não representa uma retomada significativa, pois, em termos de receita, a indústria de máquinas é hoje 50% do que foi em 2013, e uma expansão dessa ordem não repõe a queda dos últimos anos. Sob esse pano de fundo, São Paulo sediou em junho mais uma edição da Fispal Tecnologia, principal vitrine do segmento de máquinas para alimentos e bebidas. Uma das principais atrações, com direito a sessão de avant-première e coletiva de imprensa no primeiro dia da mostra,  ficou por conta de um demonstrador da Indústria 4.0, desenvolvido em parceria com o Instituto Mauá de Tecnologia, MCK Automação e Zorfa Tec Consultoria. Instalado numa área de 300 metros quadrados, o espaço protegido por vidro transparente possibilitou aos visitantes vivenciarem uma linha de produção (de sorvete, no caso) com as tecnologias aplicadas aos processos produtivos de um ambiente da Indústria 4.0, promovendo a experiência inédita de acompanhar a linha de produção, com a entrega de um produto totalmente customizado, de acordo com as preferências do consumidor. Além de robôs e braços mecânicos, o demonstrador exibiu as tecnologias de ponta para a elaboração de um produto, a partir de receita previamente selecionada e inserida pelo visitante na base de dados do sistema. Depois de acompanhar as etapas de acionamento dos equipamentos, cada visitante recebia uma amostra do produto final (sorvete de sabor, textura e cor por ele selecionado) por meio de um simpático robô de rodinhas. Tudo isso seria maravilhoso, não por um detalhe, que remete à realidade atual da indústria brasileira como um todo. Ainda segundo a Abimaq, um estudo recente sobre a idade média das máquinas no Brasil constatou que os índices são muito elevados. As linhas nacionais contam com equipamentos cuja média de idade atinge 17 anos, prazo mais que vencido em comparação com países desenvolvidos. Na Alemanha, por exemplo, onde o uso estimado é de apenas cinco anos, promove-se em intervalos até menores a troca de máquinas por outras mais evoluídas e funcionais. Como não poderia ser diferente, o estudo da associação conclui que o resultado da ineficiência dos bens de capital mecânicos nacionais é a perda da produtividade e da competitividade. •

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