A lenta recuperação

A cidade de Ilhéus, no Sul da Bahia, abrigou em julho a 10.ª edição do Chocolat Bahia – Festival Internacional do Chocolate e Cacau, inserida em pauta da presente edição. Além da exposição de produtos artesanais, o evento marcou a inauguração de uma rota turística, que passa por propriedades de cultivo do cacau. Um totem em forma de barra de chocolate fincado na BA-262 marca o começo da Estrada do Chocolate, rodovia estreita que liga Ilhéus ao município de Uruçuca. O lançamento aconteceu em 18 de julho, dia da abertura do festival, realizado todos os anos em Ilhéus. Numa primeira fase, 20 propriedades, na estrada principal e em vicinais, abrirão suas porteiras a visitantes. A ideia é que o circuito cresça e englobe até 50 fazendas. O Sebrae presta consultoria aos proprietários e se encarregou da capacitação do pessoal. O governo do estado investiu até agora R$ 400 mil, sendo esses recursos aplicados na sinalização da estrada e na criação de um site e um aplicativo. O objetivo é também conquistar parceiros na iniciativa privada para melhorar o acesso a fazendas mais afastadas, onde o asfalto não chega. O turismo pode ser uma alternativa para salvar a economia da cidade, que desmoronou na década de 1990, depois de as lavouras de cacau, insumo-chave para fabricação de chocolate, terem sido dizimadas pela praga conhecida como vassoura-de-bruxa. Desde então, alguns produtores recuperaram as plantações e estão obtendo resultados no chamado mercado de cacau fino, destinado à fabricação de chocolates premium. Mas o crescimento é lento. Casarões centenários impregnados de história, muitos dos quais já serviram de cenário para filme e novela, agora podem ser vistos por dentro. Em alguns, o visitante pode provar pratos da roça, típicos da região —diferentes da culinária baiana dominante no litoral. As visitas também incluem experiências no campo, sendo possível acompanhar a colheita — feita há mais de um século manualmente — e, no meio da floresta, beber o mel do cacau, caldo doce que escorre da polpa da fruta. Depois de subir nas típicas barcaças – onde as amêndoas são secas ao sol –, sob telhados que deslizam sobre trilhos, é possível ainda acompanhar as etapas da produção do chocolate e participar de degustações. O sistema, conhecido como cabruca, garante a umidade e o sombreamento necessários ao cacaueiro e contribui para a preservação da Mata Atlântica. Entre as fazendas desse roteiro abertas à visitação podem ser conferidas as propriedades Provisão, Riachuelo, Capela Velha, Yrerê e as instalações do pioneiro Chocolate Caseiro de Ilhéus. A região, no entanto, abriga cerca de 50 produtores de chocolate num universo de 30 mil produtores de cacau. ■

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